quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Opinião Política - Vai e Volta na Ucrânia





A Ucrânia realizou nestes dias eleições legislativas que deram a vitória ao partido do presidente Victor Yanukovich, pró-russo, e a ex-premiê oposicionista Yulia Tymoshenko, pró-Ocidente, iniciou uma greve de fome em protesto contra supostas fraudes e ameaças a democracia, iniciando um novo capítulo da longa disputa na Ucrânia que nos remete a Revolução Laranja de 2004. A Revolução Laranja consistiu em uma série de protestos que ocorreram em 2004 e 2005 após as eleições presidenciais de 2004, disputadas por Victor Yushenko e Victor Yanukovich. Na ocasião o candidato apoiado pela Rússia Victor Yanukovich foi considerado o vitorioso do pleito, marcado por irregularidades, fraudes e intimidações, dando origem a protestos, greves civis e atos de desobediência civil lideradas por Victor Yushenko e Yulia Tymoshenko. Uma segunda votação foi feita, dando a vitória ao candidato derrotado e apoiado pelo Ocidente Victor Yushenko, que chegou a ser envenenado durante o desenrolar dos fatos, confirmando as suspeitas. Assim, Victor Yushenko se tornou presidente da Ucrânia, nomeando Yulia Tymoshenko como premiêr. Em 2009, como forma de pressionar o governo ucraniano, a Rússia, por meio da Gazprom interrompeu o fornecimento de gás para a Ucrânia, afetando as residências de 16 países da União Européia em pleno inverno rigoroso. A Rússia fornecia 30% do gás consumido pelo continente europeu, sendo que 80% desse volume passavam por gasodutos que atravessavam a Ucrânia. Alegou-se a falta de acordo sobre o preço do gás em negociação, uma vez que os russos queriam a elevação de 179,5 dólares para 250 dólares por cada mil m3, e a Ucrânia insistia em não pagar mais de 201 dólares pelo m3 e queria discutir o valor da tarifa para o trânsito do gás em território ucraniano.  O fornecimento de gás só foi retomado por meio de pressões e a supervisão da União Européia. Nas eleições presidenciais de 2010, no entanto, Yulia Tymoshenko candidata apoiada por Victor Yushenko, foi derrotada por Victor Yanukovich, pondo fim definitivo a Revolução Laranja. Em outubro de 2011, Yulia Tymoshenko foi condenada a sete anos de prisão por abuso de poder na conclusão de acordos de petróleo com uma empresa de gás russa em 2009 que gerou um prejuízo de 200 bilhões de dólares para a Ucrânia, num processo considerado arbitrário e anti-democrático. A Ucrânia, uma das sedes da Eurocopa de 2012, durante seus preparativos, sofreu pressões internacionais por causa de supostos maus-tratos na prisão a ex-premiê Yulia Tymoshenko, com cancelamento de visitas oficiais ao evento e boicotes. Vale lembrar que a Ucrânia se tornou independente da União Soviética em 1991, desde então é alvo de disputa de influência pela Rússia e pelo Ocidente. Além disso, a Ucrânia tem a maior concentração de russos fora do país, é berço da etnia russa e sua população é dividida entre a identidade russa e a identidade européia. Tentam negociar a entrada da Ucrânia na União Européia e na OTAN, assim como a Geórgia, despertando a fúria de Moscou, interessada em recuperar sua zona de influência do período soviético. Enfim, mais um capítulo chega para esquentar a disputa entre a Rússia e Ocidente pela influência da Ucrânia, uma novela que já dura quase dez anos e que nos remete a guerra fria.