terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Opinião Política - Brasiguaios: Os Brasileiros do Paraguai

Nestes dias o Paraguai foi sacudido por conflitos de terras entre latifundiários brasileiros, os brasiguaios, e grupos de sem-terra paraguaios. Grupos de sem-terra do Paraguai ameaçam invadir as terras de fazendeiros brasileiros que vivem na fronteira do Paraguai, se utilizando da bandeira da reforma agrária. São brasileiros que decidiram ganhar a vida no Paraguai, que hoje já somam 300 mil e receberam inúmeros estímulos do governo do ditador paraguaio Alfredo Stroessner para adquirir terras paraguaias e produzir nelas, como oferta de terras, preços baixos e forte proteção policial. Suas principais atividades econômicas estão ligados ao agronegócio, em especial a soja, setor que responde por 80% do PIB do Paraguai e é o principal responsável pelos 15,3% de crescimento da economia paraguaia verificados em 2010. São brasileiros com extensas terras e grandes latifúndios em meio a uma população em que 35% vivem abaixo da linha de pobreza. O governo do esquerdista Fernando Lugo vive um dilema nessa questão, uma vez que em toda a sua história sempre apoiou os movimentos sociais e os grupos camponeses, mas no governo depende de grupos tradicionais e conservadores para sobreviver politicamente. Os brasiguaios acusam Fernando Lugo de apoiar e incitar a violência dos grupos sem-terra paraguaios, de omissão e negligência, de não fazer nada para impedir as ações dos grupos sem-terra e prejudicar quem mais produz e contribui para a economia do Paraguai. Os grupos sem-terra paraguaios acusam Fernando Lugo de traição as suas bandeiras e raízes históricas e apontam o imperialismo brasileiro, lembrando a derrota sofrida pelos paraguaios frente a brasileiros, argentinos e uruguaios. E Fernando Lugo se esquiva tentando agradar a todos, assim como o ex-presidente Lula. No fundo, trata-se de uma disputa entre dois modelos de agricultura: a pequena agricultura baseada em um sistema de carros de bois e a grande agricultura baseada em máquinas agrícolas, silos de armazenagem, produção de sementes, fábrica de agroquímicos, linhas de financiamento a produção e portos. Nos dias atuais a bandeira da reforma agrária se tornou obsoleta, pois somente os grandes latifúndios podem atender a demanda de nossos dias.