quarta-feira, 18 de julho de 2012

Opinião Política - Trambique no Paraguai





Nestes dias, o Paraguai assistiu ao impeachment de seu presidente Fernando Lugo, viu a chegada ao poder de seu vice Frederico Franco, foi expulso do Mercosul e da Unasul, sofreu pressões de seus vizinhos da América do Sul e viu a entrada da Venezuela no Mercosul. O presidente de esquerda Fernando Lugo sofreu um processo relâmpago de impeachment pelo Congresso Nacional que durou apenas 30 horas, fato que gerou especulações de um golpe de Estado, pois não teria tido tempo suficiente para se defender, logo após um episódio de conflito agrário em Curuguaty envolvendo sem-terra e fazendeiros que acabou em confronto armado, deixando 17 mortos. Fernando Lugo foi eleito em 2008 com uma bandeira de esquerda, prometendo durante a campanha promover a reforma agrária, aumentar o preço da energia de Itaipu pago pelo Brasil e reduzir as desigualdades sociais, com o apoio de movimentos sociais e de partidos de direita tradicionais, ao qual pertence Frederico Franco, rompendo um ciclo de hegemonia do Partido Colorado, há seis décadas no poder, vinha enfrentando crise politica com a Igreja Católica por assumir a paternidade de dois filhos tidos com duas mulheres quando ainda era bispo, vinha sendo acusado pelos fazendeiros brasileiros, os brasiguaios, de proteger e incitar os sem-terra paraguaios e era acusado de defender grupos guerrilheiros, como o Exército do Povo Paraguaio (EPP). Fernando Lugo, após a decisão do Congresso Nacional, fez um discurso afirmando que aceitava a decisão e pediu aos seus partidários que fizessem manifestações pelo país, reprimidas durante confusão em tentativa de invasão do Congresso Nacional. Frederico Franco, de direita, logo após assumir o poder, recebeu o apoio dos brasiguaios, que temiam os sem-terra. Como retaliação ao suposto golpe de Estado, o Paraguai foi suspenso imediatamente do Mercosul e da Unasul, ação osquestrada por Hugo Chávez, Cristina Kirchner e Rafael Corrêa e aceita por Dilma Rousseff. O Paraguai sofreu fortes pressões de seus vizinhos latino-americanos, encabeçadas por Hugo Chávez, que interrompeu o fornecimento de petróleo ao país, e inclusive chegou-se a cogitar a aplicação de sanções econômicas contra o Paraguai. Diante da suspensão do Paraguai do Mercosul, a primeira suspensão da história do bloco, os demais membros aprovaram imediatamente a entrada da Venezuela no bloco, uma vez que o Congresso Nacional do Paraguai impunha obstáculos a sua pretensão. Os Estados Unidos e a OEA afirmaram que não houve golpe de Estado, que a Constituição paraguaia foi respeitada, que o impeachment foi legitimo e que Fernando Lugo ia respeitar a decisão do Congresso. O que se vê no Paraguai é uma clara ingerência politica por parte de Hugo Chávez e seus aliados na soberania do país, com o uso do Mercosul e da Unasul como instrumentos de pressão política, claramente tendenciosos, uma vez que o impeachment de Fernando Lugo apesar de rápido respeitou a Constituição paraguaia e foi decidida pelo Congresso Nacional, órgão maior que representa a vontade popular, inclusive com a promessa de Fernando Lugo de que respeitaria a decisão, como se vê na alegação de que a suspensão do Paraguai do Mercosul se deu pelo fato de o país ferir a democracia e na aceitação da entrada imediata da Venezuela de Hugo Chávez no bloco, decisão apoiada inclusive por Dilma Rousseff.





quarta-feira, 4 de julho de 2012

Opinião Política - Oásis no Deserto







Após quase mais de um ano e meio de intensos protestos nas ruas, o Egito finalmente elegeu seu novo presidente. Mohamed Mursi da Irmandade Muçulmana, que derrotou Ahmed Shafiq, ex-primeiro-ministro de Hosni Mubarak e representante do antigo regime, tomou posse, sendo o primeiro presidente islamita e civil do Egito desde que o rei foi deposto, em 1952 pelos militares. Agora vive-se um impasse  político, uma vez que  dias antes do pleito, a Junta Militar que governava o país dissolveu o Parlamento e reduziu os poderes do presidente da República. Os eleitores da Irmandade Muçulmana prometeram fazer novas manifestações nas  ruas até que os poderes do presidente sejam plenamente restabelecidos. Além disso, há incertezas  acerca dos rumos de um governo da Irmandade Muçulmana. Vale lembrar que a Irmandade  Muçulmana foi fundada há 84 anos, em 1928 por Hassan al Basa para   promover os valores islâmicos e combater o domínio  colonial britânico, foi reprimida, banida e proibida de exercer atividades políticas pela ditadura militar egípcia, exerceu e aumentou sua  influência por meio de uma extensa rede de ação social, que preencheu o vácuo deixado pela incompetência do Estado em prover serviços básicos, influenciou movimentos islamitas do  mundo inteiro, incluindo alguns dos mais radicais, como o Hamas e a Al Qaeda de Osama bin Laden, e teme-se que se  implante  no  Egito um regime fundamentalista islâmico nos moldes do Irã, apesar de adotar um tom moderado e conciliador. Com a chegada ao poder da Irmandade Muçulmana, grupo que inspirou o Hamas, há dúvidas sobre o futuro das relações diplomáticas entre Egito e  Israel, pois sob Hosni Mubarak ambos eram aliados e mantinham um tratado de paz. Depois de 30 anos ininterruptos do governo de Hosni  Mubarak, marcados por repressão, corrupção, pobreza, injustiças e miséria, a população egípcia decidiu sair as ruas e ocupar a Praça Tahir exigindo a saída de Hosni Mubarak, na Primavera Árabe, e depois de quase um ano e meio de luta, em que o antigo regime fez manobras políticas para permanecer no poder, incluindo o futebol, a população egípcia finalmente encontrou um oásis no meio do deserto.